quarta-feira, 4 de março de 2009

Momento da verdade - Acidente na A23

Os momentos que antecederam o acidente ocorrido na A23, do qual resultaram 17 vítimas mortais, foram reconstituídos na passada sexta-feira de manhã. À tarde os peritos afectos ao processo avaliaram os dados recolhidos. Um dos advogados de defesa das vítimas fala em partilha de culpas no acidente. Reconquista explica-lhe o que de facto ficou apurado.


Os peritos afectos ao processo do acidente ocorrido na A23, do qual resultaram 17 vítimas mortais, consideram que o autocarro terá invadido a faixa da esquerda numa largura de 5 centímetros, no momento anterior ao primeiro embate entre o ligeiro de passageiros e o autocarro da Câmara de Castelo Branco. Isso mesmo concluíram, sexta-feira à tarde, depois de uma manhã de medições em plena A23 encerrada ao trânsito perto do Nó do Fratel, no mesmo local em que se registou o acidente.

Segundo apurámos, na reunião realizada na parte da tarde no Tribunal de Castelo Branco e presidida pelo juiz Jorge Martins, foi ainda levantada a questão se as medições efectuadas ao longo da manhã eram seguras e correctas. A resposta por parte dos peritos foi de que por regra os veículos pesados apresentam sempre, em marcha, uma oscilação que pode chegar aos 15/20 centímetros para a esquerda ou direita. Daí que a linha de trajectória traçada nas medições deva ser considerada como uma mediana.

Nessa mesma reunião, com os peritos afectos ao caso, foi referido que se tiver em linha de conta os tais 26.8 metros (os quais antecedem a marca de arrastamento deixada no pavimento de rodagem pelo rodado traseiro exterior esquerdo do autocarro), e considerando as velocidades relativas (ligeiro-120 km/h e autocarro-94 km/h), para que o primeiro embate se registasse 17 metros à frente, então o veículo ligeiro estaria cerca de cinco metros atrás do autocarro. Ou seja foi lançada a dúvida que se a condutora do ligeiro se assusta, não o faz ao lado do pesado, mas sim cinco metros atrás.


Medições importantes


Como o Reconquista tinha divulgado em primeira mão, o juiz Jorge Martins, decidira reconstituir o momento anterior ao acidente. No entender do Tribunal, “é de toda a relevância perceber o que sucedeu nos 26.8 metros que antecedem a marca de arrastamento deixada no pavimento de rodagem pelo rodado traseiro exterior esquerdo do autocarro”. Só dessa forma, assegura o Tribunal, é possível apurar em concreto se a manobra imputada à arguida na acusação, como sendo a causadora do nexo de causalidade que conduziu ao acidente, se ficou a dever a mera condução imprevidente e inábil ou, pelo contrário se resultou de uma manobra de recurso imposta pelo condutor do autocarro, ou ainda se foi o resultado de uma manobra de recurso praticada de forma imprevidente e incauta (apurando a responsabilidade ou co-responsabilidade do acidente).

A auto-estrada foi interrompida às 10 horas e os trabalhos de medição prolongaram-se até perto do meio-dia. Jorge Martins optou por não fazer qualquer comentário, afirmando apenas que "estamos a utilizar tecnologia avançada para assegurar as marcas no local. Queremos assegurar o rigor e a seriedade que o tribunal põe em prol da justiça".

Nos trabalhos foi utilizado um autocarro de dimensões idênticas à do sinistrado (cedido pela autarquia de Vila Franca de Xira) e um veículo ligeiro igual ao que esteve envolvido no acidente. “Essa será a única forma de tentar retroagir à origem do acidente e desse modo perceber as suas causas”, assegura o Tribunal.


Como foi feita a medição


Com o autocarro no local foram-se apurando as respectivas medidas, ficando-se com a ideia que o veículo pesado, no tal momento de análise, estava alguns centímetros dentro da faixa da esquerda.

A reconstituição efectuada na passada sexta-feira de manhã teve por objectivo apurar a existência de uma eventual correlação entre a trajectória do pesado de passageiros nos momentos que antecederam a primeira colisão e a manobra do veículo ligeiro antes dessa mesma colisão.

Por isso, em plena A23, fez-se alinhar um veículo pesado de passageiros (com as características do interveniente no acidente) com a referida marca de arrastamento e o respectivo ângulo de divergência em relação ao eixo da via, fazendo-o recuar no espaço de 26,8 metros (o equivalente a um segundo do total do seu trajecto) até um ponto anterior àquele em que se iniciam as marcas deixadas pelos rodados do lado esquerdo do ligeiro de passageiros no pavimento. Colocou-se, então, aí um ligeiro de passageiros com as mesmas dimensões, e verificou-se se houve, ou não, alguma relação directa entre essa posição inicial do dito pesado e a manobra do ligeiro de passageiros.

Toda esta operação envolveu os Destacamentos de Trânsito da GNR - BT de Castelo Branco e Abrantes (num total de 26 agentes), a própria Scutvias e a Câmara Municipal de Vila Franca de Xira, que disponibilizou um autocarro de idênticas dimensões ao sinistrado.
in "Reconquista"

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