Salários médios baixos. Quem trabalha por conta de outrem na Beira Interior onde ganha mais é em Vila Velha de Ródão, Guarda, Castelo Branco e Covilhã (entre 1.030 e 733 euros). No Fundão, o salário médio está abaixo dos 700 euros. Fomos ao encontro dos que tentam vencer o desemprego pelos próprios meios, abrindo negócios. Também aqui nem tudo é um mar de rosas. O roteiro do rendimento possível e do desemprego neste interior que não é igual entre si.
PARA além dos números, encontramos as pessoas. Para além da frieza matemática, apuram-se os gestos do quotidiano, as buscas mais ou menos consequentes de emprego, do pagar das contas, de vidas que não se concebem sem uma ocupação. As intempéries da alma são mais do que as desejadas para quem se vê olhos nos olhos com o desemprego.
Há mais vida para além dos números, mas são esses números que traduzem a vida. A Beira Interior, microcosmos neste vasto turbilhão de impactos negativos económicos e financeiros, vai convivendo com as suas realidades, as suas realidades possíveis, tal como outros terão que o fazer. Mas há as pessoas. E a realidade é a que é... É a que se sente na rua. E as dificuldades conjunturais e estruturais são as que são e as que se sabem. E as que se sentem. E as que são traduzidas por palavras. Quem não partir, à semelhança de muitos que já o fizeram, é nesta região que descobrirá e testará os limites da sua progressão, os limites do seu sonho, e será aqui que terá que não soçobrar ao desencanto. É nesta mesma região que procurará o rumo. E é nesta mesma região que soltam muitas realidades. E mesmo dentro do contexto de interioridade, as oportunidades são distintas.
As periferias também se desenham por aqui, com a centralidade colocada nas maiores cidades e concelhos da região. A partir daí a malha torna-se mais ténue, em alguns casos quase no limiar do indistinto, nos recantos mais longínquos desta interioridade, que não é una como se verá.
Os concelhos iminentemente rurais são os menos afectados pelo desemprego, não por um qualquer extraordinário factor de dinamismo, mas sim porque a emigração e o índice de envelhecimento da população tratou de colocar os números forçosamente em baixo. Nos concelhos mais populosos, com nítida presença de serviços públicos, comércio e indústria, a realidade aponta para outros números. O relatório concelhio de Fevereiro do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) aponta no concelho da Covilhã 3.690 desempregados inscritos no centro de emprego. Castelo Branco tem 3.010, Guarda 2.044 e Fundão 1.607 desempregados. Fora deste eixo urbano, apenas Seia - concelho no coração da Serra da Estrela ligado à indústria têxtil - ultrapassa largamente o milhar de desempregados (1.701). Onde o despovoamento grassa com maior impetuosidade, raros são os concelhos que registam números acima dos 400 desempregados registados, um patamar atingido em Belmonte (precisamente 400) - também pólo de indústria têxtil -, Gouveia (841) - em idêntico contexto económico - Idanha-a-Nova (424), Pinhel (406) e Sertã (616). Concelhos como Vila Velha de Ródão, Vila de Rei e Oleiros não passam dos cem desempregados.
Outra linha condutora do retrato do desemprego no eixo Castelo Branco - Fundão - Covilhã - Guarda é a de que a maioria dos desempregados estão compreendidos na faixa etária dos 35 aos 54 anos e são mulheres na sua maioria. Nos concelhos de Castelo Branco, Covilhã e Fundão, o desemprego afecta principalmente cidadãos com um nível escolar correspondente ao Primeiro Ciclo, sendo que no da Guarda, o desemprego atinge essencialmente cidadãos com o 3.º ciclo. Castelo Branco tem 325 desempregados inscritos no centro de emprego com o ensino superior completo, a Covilhã 339, Fundão 123 e a Guarda 268.
Salários na região
Os salários revelam-se outro precioso indicador da dinâmica económica da região e o primeiro facto que a registar é que quem trabalha por contra de outrem apresenta ganhos médios relativamente baixos por toda a região. Mas também aqui, há fracturas na região. Nos principais pólos urbanos recebe-se mais do que nas zonas rurais da Beira Interior. O ganho médio mensal no concelho da Guarda é o mais alto a Norte da Beira Interior e o segundo maior de toda a região. Os dados mais recentes do Instituto Nacional de Estatísticas, relativos a 2007, atribuem a este concelho 782,4 euros de ganho médio mensal a trabalhadores por conta de outrem a tempo completo com remuneração completa.
Em Castelo Branco, os ganhos médios mensais são de 782,3 euros e na Covilhã, o salário médio é de 733,4 euros. Segue-se Manteigas, com um salário médio de 719 euros, Seia, 712,5 euros e Trancoso de 707 euros. Estes são dos únicos concelhos da Beira Interior onde o salário médio está acima do patamar dos 700 euros. E aqui há ainda a registar e destacar o “fenómeno” de Vila Velha de Ródão com um salário médio de 1030,1 euros - o mais alto da Beira Interior - ao qual não será alheio o facto da forte presença da indústria de transformação de pasta de papel naquele concelho.
Em sentido descendente, em contexto de baixa do patamar dos 700 euros, surge o Fundão com média de 689,9 euros, ocupando apenas o oitavo lugar nos municípios da Beira Interior. Ainda na sub-região da Cova da Beira, em Belmonte registava-se um ganho médio mensal de 640,1 euros.
Em Idanha-a-Nova os valores são de 680,3 euros, em Penamacor 656,6 euros, Oleiros 595,2 euros, Proença-a-Nova 658,7 euros, Vila de Rei 635,8 euros, Fornos de Algodres 623,1 euros, Gouveia 645,1 euros, Almeida, 663,5 euros, Celorico da Beira 642,1 euros, Figueira de Castelo Rodrigo, 649,3 euros, Meda, 688,7 euros, Pinhel, 647,8 euros, Sabugal 653,4 euros.
O desemprego ataca-se de bata branca e com um cutelo na mão
E AO FIM do terceiro contrato, Bruno Costa viu-se no desemprego. Era, subitamente, um tempo muito próprio e estranho. Agora, era não dar tréguas ao tempo e tentar ver por onde seria a escapatória, qualquer que ela fosse. O hipermercado onde trabalhou no Fundão não lhe renovou o contrato, lançando-o num mundo que ninguém gosta de frequentar: um vazio sem ocupação e sem rendimentos.
O talho do hipermercado onde trabalhou ano e meio ficou para recordação. “Ainda passei pelo matadouro de Alcains para ganhar alguma experiência no desmancho, e estabeleci-me por conta própria”. Hoje, aos 27 anos, é o proprietário do seu próprio talho, o Talho Costa”. É a atrás deste balcão que venceu o desemprego. Com a ajuda dos pais que foram fiadores junto da banco e também auxiliado por um apoio do Instituto de Emprego e Formação Profissional avançou para a escapatória que via: ser dono do seu próprio negócio. “Fui logo inscrito no centro de emprego... e a única solução que depois consegui encontrar foi estabelecer-me por conta própria. Apresentei um projecto que acabou por ser aprovado para conseguir abrir um negócio”.
O talho que inaugurou em Outubro de 2009 foi a corda de resgate ao desemprego. Muitas dezenas de milhares de euros estão investidos nestas quatro paredes que lhe alberga a ambição de nunca mais voltar a ter o seu nome na base de dados do centro de emprego do Fundão. “Pedi um empréstimo e tenho muito que agradecer aos meus pais, que foram os meus fiadores...” Foram oito meses sem emprego onde procurou trabalhar para conta de outrem. Procurou, procurou, mas a resposta a essa procura está dada ao encontrarmos a gerir o seu talho: “na Beira Interior não há saídas e aquilo que procurei não tive grande sucesso”. Com responsabilidades acrescidas, com contas a pagar, é esperar pela adesão dos clientes ao novíssimo talho, que exibe orgulhosamente. “As coisas estão a andar, há dias melhores, outros piores. Esta é uma zona que ainda está em expansão... Vamos ver se no futuro as coisas melhoram”.
Desde que por aquela porta não entre o desemprego...
O retrato da crise feito ao peso das fatias de queijo e fiambre
MARIA da Conceição viu o desemprego entrar de súbito na sua vida em Dezembro de 2006. A empresa em que trabalhava, no Fundão, como escriturária encontrou o fim da linha e arrastou para as estatísticas do desemprego esta mulher de 45 anos.
“Não pude cruzar os braços, tive que seguir em frente. Não arranjei nada durante um ano e meio. Como não arranjei nada de definitivo, tive que abrir esta pequena loja para criar o meu próprio emprego”. Maria também contou com o apoio do IEFP para criar o seu posto de trabalho. O resto do investimento coube-lhe a ela, através de empréstimo bancário.
Esta loja é a Charcutaria Gourmet Quatro F´s, bem perto do talho de Bruno Costa. Este foi um salto em frente em fuga de uma situação social que não se compadecia com as dificuldades em arranjar um emprego minimamente estável aos 45 anos. “Era impensável eu ficar em casa, porque entro completamente em depressão... mas as coisas agora também não estão a funcionar muito bem, não sei como é que vai ser”. Porque os clientes não são tantos como a necessidade o exige. A filha mais velha terminou agora o curso e também procura emprego. Mantém-se em Castelo Branco, porque acha que no Fundão não há oportunidades, diz. A proprietária da charcutaria tem outras batalhas a ganhar, agora que trabalha por conta própria: tem rendimentos para pagar as despesas da loja e tirar o seu salário para compor o orçamento familiar. Mas é aqui que nota a quebra de poder de compra: “a partir de Dezembro, agravou-se. Nunca esteve bem, mas dava para as despesas. Agora não... É a crise, as pessoas não têm dinheiro. Enquanto que eu vendia dez papo-secos a uma família, agora levam dois ou três, duas fatias de fiambre, duas fatias de queijo, duas maçãs, duas pêras. Antes não, era um quilo. Agora é tudo contado para o dia, só para aquele momento. Se no dia seguinte, puderem passar, passam. Quando abri não era assim...” Maria diz já ter pensado em mudar, “mas mudar para onde? No Fundão não estou a ver solução”.
Foram 25 anos de trabalho em duas empresas distintas. Hoje administra o seu destino laboral. Mas não é fácil. É a crise pesada nos leves gramas de uma qualquer fatia.
PARA além dos números, encontramos as pessoas. Para além da frieza matemática, apuram-se os gestos do quotidiano, as buscas mais ou menos consequentes de emprego, do pagar das contas, de vidas que não se concebem sem uma ocupação. As intempéries da alma são mais do que as desejadas para quem se vê olhos nos olhos com o desemprego.
Há mais vida para além dos números, mas são esses números que traduzem a vida. A Beira Interior, microcosmos neste vasto turbilhão de impactos negativos económicos e financeiros, vai convivendo com as suas realidades, as suas realidades possíveis, tal como outros terão que o fazer. Mas há as pessoas. E a realidade é a que é... É a que se sente na rua. E as dificuldades conjunturais e estruturais são as que são e as que se sabem. E as que se sentem. E as que são traduzidas por palavras. Quem não partir, à semelhança de muitos que já o fizeram, é nesta região que descobrirá e testará os limites da sua progressão, os limites do seu sonho, e será aqui que terá que não soçobrar ao desencanto. É nesta mesma região que procurará o rumo. E é nesta mesma região que soltam muitas realidades. E mesmo dentro do contexto de interioridade, as oportunidades são distintas.
As periferias também se desenham por aqui, com a centralidade colocada nas maiores cidades e concelhos da região. A partir daí a malha torna-se mais ténue, em alguns casos quase no limiar do indistinto, nos recantos mais longínquos desta interioridade, que não é una como se verá.
Os concelhos iminentemente rurais são os menos afectados pelo desemprego, não por um qualquer extraordinário factor de dinamismo, mas sim porque a emigração e o índice de envelhecimento da população tratou de colocar os números forçosamente em baixo. Nos concelhos mais populosos, com nítida presença de serviços públicos, comércio e indústria, a realidade aponta para outros números. O relatório concelhio de Fevereiro do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) aponta no concelho da Covilhã 3.690 desempregados inscritos no centro de emprego. Castelo Branco tem 3.010, Guarda 2.044 e Fundão 1.607 desempregados. Fora deste eixo urbano, apenas Seia - concelho no coração da Serra da Estrela ligado à indústria têxtil - ultrapassa largamente o milhar de desempregados (1.701). Onde o despovoamento grassa com maior impetuosidade, raros são os concelhos que registam números acima dos 400 desempregados registados, um patamar atingido em Belmonte (precisamente 400) - também pólo de indústria têxtil -, Gouveia (841) - em idêntico contexto económico - Idanha-a-Nova (424), Pinhel (406) e Sertã (616). Concelhos como Vila Velha de Ródão, Vila de Rei e Oleiros não passam dos cem desempregados.
Outra linha condutora do retrato do desemprego no eixo Castelo Branco - Fundão - Covilhã - Guarda é a de que a maioria dos desempregados estão compreendidos na faixa etária dos 35 aos 54 anos e são mulheres na sua maioria. Nos concelhos de Castelo Branco, Covilhã e Fundão, o desemprego afecta principalmente cidadãos com um nível escolar correspondente ao Primeiro Ciclo, sendo que no da Guarda, o desemprego atinge essencialmente cidadãos com o 3.º ciclo. Castelo Branco tem 325 desempregados inscritos no centro de emprego com o ensino superior completo, a Covilhã 339, Fundão 123 e a Guarda 268.
Salários na região
Os salários revelam-se outro precioso indicador da dinâmica económica da região e o primeiro facto que a registar é que quem trabalha por contra de outrem apresenta ganhos médios relativamente baixos por toda a região. Mas também aqui, há fracturas na região. Nos principais pólos urbanos recebe-se mais do que nas zonas rurais da Beira Interior. O ganho médio mensal no concelho da Guarda é o mais alto a Norte da Beira Interior e o segundo maior de toda a região. Os dados mais recentes do Instituto Nacional de Estatísticas, relativos a 2007, atribuem a este concelho 782,4 euros de ganho médio mensal a trabalhadores por conta de outrem a tempo completo com remuneração completa.
Em Castelo Branco, os ganhos médios mensais são de 782,3 euros e na Covilhã, o salário médio é de 733,4 euros. Segue-se Manteigas, com um salário médio de 719 euros, Seia, 712,5 euros e Trancoso de 707 euros. Estes são dos únicos concelhos da Beira Interior onde o salário médio está acima do patamar dos 700 euros. E aqui há ainda a registar e destacar o “fenómeno” de Vila Velha de Ródão com um salário médio de 1030,1 euros - o mais alto da Beira Interior - ao qual não será alheio o facto da forte presença da indústria de transformação de pasta de papel naquele concelho.
Em sentido descendente, em contexto de baixa do patamar dos 700 euros, surge o Fundão com média de 689,9 euros, ocupando apenas o oitavo lugar nos municípios da Beira Interior. Ainda na sub-região da Cova da Beira, em Belmonte registava-se um ganho médio mensal de 640,1 euros.
Em Idanha-a-Nova os valores são de 680,3 euros, em Penamacor 656,6 euros, Oleiros 595,2 euros, Proença-a-Nova 658,7 euros, Vila de Rei 635,8 euros, Fornos de Algodres 623,1 euros, Gouveia 645,1 euros, Almeida, 663,5 euros, Celorico da Beira 642,1 euros, Figueira de Castelo Rodrigo, 649,3 euros, Meda, 688,7 euros, Pinhel, 647,8 euros, Sabugal 653,4 euros.
O desemprego ataca-se de bata branca e com um cutelo na mão
E AO FIM do terceiro contrato, Bruno Costa viu-se no desemprego. Era, subitamente, um tempo muito próprio e estranho. Agora, era não dar tréguas ao tempo e tentar ver por onde seria a escapatória, qualquer que ela fosse. O hipermercado onde trabalhou no Fundão não lhe renovou o contrato, lançando-o num mundo que ninguém gosta de frequentar: um vazio sem ocupação e sem rendimentos.
O talho do hipermercado onde trabalhou ano e meio ficou para recordação. “Ainda passei pelo matadouro de Alcains para ganhar alguma experiência no desmancho, e estabeleci-me por conta própria”. Hoje, aos 27 anos, é o proprietário do seu próprio talho, o Talho Costa”. É a atrás deste balcão que venceu o desemprego. Com a ajuda dos pais que foram fiadores junto da banco e também auxiliado por um apoio do Instituto de Emprego e Formação Profissional avançou para a escapatória que via: ser dono do seu próprio negócio. “Fui logo inscrito no centro de emprego... e a única solução que depois consegui encontrar foi estabelecer-me por conta própria. Apresentei um projecto que acabou por ser aprovado para conseguir abrir um negócio”.
O talho que inaugurou em Outubro de 2009 foi a corda de resgate ao desemprego. Muitas dezenas de milhares de euros estão investidos nestas quatro paredes que lhe alberga a ambição de nunca mais voltar a ter o seu nome na base de dados do centro de emprego do Fundão. “Pedi um empréstimo e tenho muito que agradecer aos meus pais, que foram os meus fiadores...” Foram oito meses sem emprego onde procurou trabalhar para conta de outrem. Procurou, procurou, mas a resposta a essa procura está dada ao encontrarmos a gerir o seu talho: “na Beira Interior não há saídas e aquilo que procurei não tive grande sucesso”. Com responsabilidades acrescidas, com contas a pagar, é esperar pela adesão dos clientes ao novíssimo talho, que exibe orgulhosamente. “As coisas estão a andar, há dias melhores, outros piores. Esta é uma zona que ainda está em expansão... Vamos ver se no futuro as coisas melhoram”.
Desde que por aquela porta não entre o desemprego...
O retrato da crise feito ao peso das fatias de queijo e fiambre
MARIA da Conceição viu o desemprego entrar de súbito na sua vida em Dezembro de 2006. A empresa em que trabalhava, no Fundão, como escriturária encontrou o fim da linha e arrastou para as estatísticas do desemprego esta mulher de 45 anos.
“Não pude cruzar os braços, tive que seguir em frente. Não arranjei nada durante um ano e meio. Como não arranjei nada de definitivo, tive que abrir esta pequena loja para criar o meu próprio emprego”. Maria também contou com o apoio do IEFP para criar o seu posto de trabalho. O resto do investimento coube-lhe a ela, através de empréstimo bancário.
Esta loja é a Charcutaria Gourmet Quatro F´s, bem perto do talho de Bruno Costa. Este foi um salto em frente em fuga de uma situação social que não se compadecia com as dificuldades em arranjar um emprego minimamente estável aos 45 anos. “Era impensável eu ficar em casa, porque entro completamente em depressão... mas as coisas agora também não estão a funcionar muito bem, não sei como é que vai ser”. Porque os clientes não são tantos como a necessidade o exige. A filha mais velha terminou agora o curso e também procura emprego. Mantém-se em Castelo Branco, porque acha que no Fundão não há oportunidades, diz. A proprietária da charcutaria tem outras batalhas a ganhar, agora que trabalha por conta própria: tem rendimentos para pagar as despesas da loja e tirar o seu salário para compor o orçamento familiar. Mas é aqui que nota a quebra de poder de compra: “a partir de Dezembro, agravou-se. Nunca esteve bem, mas dava para as despesas. Agora não... É a crise, as pessoas não têm dinheiro. Enquanto que eu vendia dez papo-secos a uma família, agora levam dois ou três, duas fatias de fiambre, duas fatias de queijo, duas maçãs, duas pêras. Antes não, era um quilo. Agora é tudo contado para o dia, só para aquele momento. Se no dia seguinte, puderem passar, passam. Quando abri não era assim...” Maria diz já ter pensado em mudar, “mas mudar para onde? No Fundão não estou a ver solução”.
Foram 25 anos de trabalho em duas empresas distintas. Hoje administra o seu destino laboral. Mas não é fácil. É a crise pesada nos leves gramas de uma qualquer fatia.
in "jornal do Fundão"
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