segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Terminada viagem no tempo, analise-se a V Feira Medieval de Belmonte

A zona histórica da vila de Belmonte foi o palco de venda de produtos tradicionais e animação de rua, numa viagem ao passado


Em data difícil de precisar, mas certamente há séculos atrás, havia nas terras de Belmonte um amor secreto e proibido. Isaac, jovem judeu, e Catarina, donzela cristã, apaixonaram-se e desejavam intensamente estar juntos. No entanto, os tempos eram cruéis. O caso amoroso soube-se e a Santa Inquisição agiu rapidamente. Isaac foi apanhado e o seu destino – morte violenta para 'limpeza', da alma – parecia certo. Atado com cordas, Isaac é levado pelos seus carrascos para a colina junto ao Castelo de Belmonte.

Assim, começa 'Auto de Fé – A Grande Ilusão', a recriação histórica realizada no último sábado à noite, no âmbito da quinta edição da Feira Medieval do Artesão de Belmonte, que desde sexta-feira e até ontem criou na zona histórica de Belmonte um ambiente que fazia recordar a Idade Média. A assistir à actuação estiveram milhares de pessoas.

Voltando à triste sina de Isaac, o sacerdote da Santa Inquisição anuncia aos milhares de pessoas presentes o crime do jovem judeu. 'Tentou conspurcar a pureza de uma moça de boas famílias cristãs e trazer para a terra de Belmonte a sua religião e espalhar as suas judiarias contra a natureza divina', gritou. Ladeado por guardas que mantinham a ordem, o inquisidor tenta que Isaac confesse o seu crime. 'Ainda tens hipótese de confessar e alcançar a graça do Senhor', atira. Contudo, Isaac permanece inflexível. O silêncio é a sua resposta.
De repente, surge Catarina que se atira aos pés do inquisidor. 'Não o mate', implora. De nada servem as súplicas. O inquisidor realiza os ritos devidos, em latim, e ordena que se avance com a execução. O jovem judeu tem de pagar pelos seus crimes infames. Os guardas agarram em Isaac e começam a arrastá-lo em direcção à cruz instalada junto ao Castelo. O jovem tenta debater-se, mas é um esforço vão. Amarrado à cruz, Isaac desespera. Grita, grita muito, só que ninguém faz nada. O seu suplício é maximizado pelo espectáculo de dois malabaristas que agitam bastões de fogo para gáudio do público.

Mas o impossível acontece. Lentamente, Isaac começa a levitar em direcção a uma das janelas do Castelo. Não voa. Trata-se de um esquema, engendrado por Catarina, para o salvar. Um sistema de cordas entre a cruz e a janela possibilitam o reencontro dos jovens amantes perseguidos pela querela religiosa. 'Nem a terrível Inquisição vence o verdadeiro amor', diz Catarina, rematando: 'Vamos fugir de tudo até que haja paz entre os povos e conciliação entre as religiões',


A festa continuou uns minutos depois com um torneio

Provas de perícia a cavalo e simulações de luta para ter direito à mão de D. Leonor constituíram o segundo espectáculo de sábado

Seis cavaleiros disputavam um prémio aliciante: a mão de D. Leonor. Antes das provas propriamente ditas, os concorrentes tiveram de demonstrar o seu domínio da arte de cavalgar. E o que aconteceu foi uma autêntica dança equestre. Numa coreografia bem executada, os animais foram sendo conduzidos em diversas manobras, como um cavalgar num alinhamento em diagonal ou em manobras que desenhavam na terra batida o formato de um oito, em perfeita harmonia.

'Já vi que dominais os vossos cavalos, agora vejamos como manejais as armas', ouve-se dizer uma voz ao fundo. A primeira prova consistia em conseguir apanhar o maior número de argolas seguindo o corte de melões. Neste último, um dos concorrentes tentou fazer batota, indo a pé, provocando um momento cómico. De novo a cavalo, o próximo desafio era acertar numa tábua giratória com uma lança.
Já munidos de escudo, chegava o momentos dos combates. Os cavaleiros avançavam com a sua lança para o centro do ringue e um deles era derrubado para o chão. Um a um, os concorrentes iam sendo eliminados até restarem somente dois. Seria num combate de espada a pé que se decidiu o vencedor.

Os dois espectáculos tiveram a duração aproximada de uma hora e estiveram a cargo da Produções Bartilotti que este ano substituiu a Vivarte, responsável pelas recriações históricas nas anteriores edições do certame. A funcionar desde 2000, a Produções Bartilotti dedica-se, para além da produção de eventos medievais, ao agenciamento de artistas, gestão da carreira artística de grupos musicais, bem como produção de outros eventos de índole teatral.

O grupo interpretou ainda, na noite de sexta-feira, o espectáculo 'Trovas de Amigo', Nessa actuação, houve um regresso às cortes medievais, nomeadamente às suas danças e músicas.


Seis dezenas de artesãos

Ao percorrer-se as estreitas ruas da zona histórica de Belmonte encontrava-se os stands em madeira, devidamente decorados, em que os vendedores também envergavam vestes a recordar tempos antigos. Os produtos alimentares, como os enchidos, vinhos e os doces caseiros, estavam entre as seis dezenas de expositores originários de vários pontos do País. Mas havia também muitos stands com tecidos, peças em madeira ou bijuteria.
Na área para alimentação, os visitantes podiam deleitar-se com uma variedade de carnes grelhadas na brasa. O porco no espeto era um dos pontos que mais suscitava olhares curiosos.


Animação de rua

Ao longo dos três dias de Feira Medieval, a animação foi constante, com teatro de rua, malabaristas, saltimbancos e acrobatas. No total, foram 12 grupos a criar pequenos momentos de espectáculos em vários locais do certame. A qualquer altura, os visitantes poderiam encontrar combates a pé ou mendigos, por exemplo.

A Feira Medieval do Artesão é organizada pela Câmara belmontense e pela Empresa Municipal de Promoção e Desenvolvimento Social de Belmonte.


texto e imagens in "diarioxxi"



A olho nu, Isabel não tem dúvidas: “Há menos gente, ainda que haja milhares nas ruas. De feirantes também está mais fraco”. Esta residente em Belmonte passeia pelas ruas da vila, que de 15 a 17 de Agosto acolheram a 5ª Edição da Feira Medieval do Artesão. E Isabel, que veio a todas, não tem dúvidas em afirmar que este ano o certame ficou aquém das expectativas. Embora esta não seja a opinião de todos. “Não está mau. É certo que não se pode comparar a Santa Maria da Feira, mas sempre dá vida a Belmonte” afirma outro residente na vila, que atrás da sua tasquinha vai vendendo umas sangrias e uns petiscos a quem passa. Sandra, que veio da Covilhã, logo no dia da abertura, e que no ano transacto também tinha vindo à vila, salienta que “estava à espera de mais. Anunciaram melhores espectáculos, cerca de 60 expositores, mas não é isso que vejo” assegura.

De todo o modo, este quinto regresso ao passado da vila teve alguns progressos. Tal com em outros anos, houve milhares de pessoas pelas ruas, ao longo dos três dias, que na Zona Histórica de Belmonte encontram stands em madeira onde se vendia desde enchidos, vinhos e os doces caseiros, tecidos, peças em madeira ou bijuteria. Mas era na zona dos comes e bebes que mais gente se concentrava, embora o número de tascas, este ano, também fosse menor. As carnes grelhadas na brasa foram um sucesso, os pãezinhos com chouriço feitos na hora também tiveram muita saída e o já tradicional porco no espeto era um dos pontos que mais suscitava olhares curiosos. A assá-lo, lá estava, como de costume, João Alves, mais conhecido na terra como João “Lela”. “Olha o javali” gritava, para atrair a clientela, que pareceu não faltar. Na noite de sábado já ia no terceiro porquinho…

A Feira teve ainda dois factos positivos, criticados por turistas e feirantes no ano anterior: duas casas de banho amovíveis e caixotes do lixo espalhados pelo recinto, de modo a que os muitos copos de plástico e guardanapos utilizados para degustar a deliciosas iguarias disponíveis não fossem parar ao chão. Menos positivo o facto de, à entrada da feira, embora fora dela, existir um stand bem “medieval” de uma marca que disponibiliza televisão digital…

Logo na sexta-feira, aquando do cortejo de abertura, encabeçado por Fernão Cabral, pai do descobridor Pedro Álvares Cabral, que deu início ao certame, o presidente da autarquia, Amândio Melo, revelava o seu optimismo. “Penso que, a avaliar por esta abertura, teremos muita gente. Espero que o tempo ajude” afirmava, lembrando que esta Feira já tem “dimensão nacional” e que é já uma “referência” no País. Sem nenhuma “meta a atingir” quanto ao número de visitantes, o presidente de Câmara assegurava que existiam este ano “mais tendas” e “mais expositores que no ano passado”. Na sexta-feira a afluência, embora a menor dos três dias, não foi má. No sábado à noite, apesar de estar fresco, aumentou bastante. A animação pelas ruas da vila, porém, ficou aquém do desejado. Não se viram tantos figurantes como em eventos anteriores, num ano de estreia das Produções Bartilotti, que este ano substituiu a Vivarte. A qualidade do som das reproduções melhorou, e muito, mas a presença de saltimbancos, mendigos, reis e rainhas, pelas ruas, não foi tão notória. “São novos nestas coisas” explicava um membro de um dos grupos de bombos que foi animando as ruas.

in "Noticias da Covilhã"


Estão também disponiveis os videos informativos da RTP1 e SIC que fizeram referência ao evento mais emblemático de Belmonte nos últimos anos.

Video RTP clique aqui.

Video SIC clique aqui.

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