
Cogitava sobre este tema enquanto visitava, em férias de final de ano, a Beira Interior. Habituado às diferentes imagens de Portugal presentes nos países onde vivi, encontrei, nesta região serrana, um Portugal exportável mas que se mantém contido dentro de si próprio. Belmonte é uma óptima ilustração. Com pelo menos 800 anos de história e edificada tanto pelo criptojudaísmo como pelo cristianismo rural, esta vila é hoje um dos bons exemplos de conservação do património. Mais do que a simples preservação física dos seus monumentos, a autarquia local investiu em museus que estimulam a interactividade - através de tecnologia discreta mas eficaz - entre as pedras e as pessoas. Na terra de Pedro Álvares Cabral, o Museu dos Descobrimentos é talvez o melhor museu nacional sobre o mais importante capítulo da História portuguesa. Mas, mesmo assim, Belmonte ainda não é um destino nacional. Se debitarmos alguns brasileiros obstinados em conhecer a terra de Cabral e alguns espanhóis fronteiriços, Belmonte não se expande para além dos contornos da Beira Interior.
Portugal continua a ter dificuldades em exportar a sua marca no exterior. As campanhas de marketing continuam a apresentar um país com "sol e praia". Mas o que tem isso de exclusivo? Há dois anos o Governo apostou no fotógrafo inglês Nick Knight e na silhueta de oito ilustres portugueses para promover um país competitivo e empreendedor. Mas o sucesso tem sido residual. A edição de 2009 do Country Brand Index, uma obra clássica sobre a imagem dos países no exterior, salientou que o turismo cultural é uma das tendências de futuro. Segundo a publicação, os grandes destinos turísticos serão suplementados por pequenos países com características desconhecidas e misteriosas. É uma óptima oportunidade para Portugal. O facto do país ser dos mais antigos na Europa é ignorado pela maioria dos estrangeiros. Todo o trabalho singular que foi realizado nas últimas décadas pela preservação do património histórico, mantém-se sub-capitalizado. O nosso ethos: romano, visigótico, judeu, cristão, muçulmano ainda não faz parte da marca de Portugal. Belmonte espera que lhe dêem uma oportunidade.
in revista "Visão"
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